E aqui fica então um belo poema da autoria de Ricardo Reis, que é um espelho da sua alma e dos seus sentimentos, tanto pela temática da morte aqui estampada, como pelo estoicismo e epicurismo patentes nos versos. Para mais, de realçar que o fatalismo deste heterónimo obriga-o a viver o presente, esquecendo o passado e o futuro, ou seja,
o "Carpe Diem"
Tudo o que cessa, é morte, e a morte é nossa Se é para nós que cessa. Aquele arbusto Fenece, e vai com ele Parte da minha vida. Em tudo quanto olhei fiquei em parte, Nem distingue a memória Do que vi do que fui.
Ricardo Reis
Fonte: MATOS, Paulo (Nita). Obra poética de Ricardo Reis. Acedido em: 25, Fevereiro, 2007. nEscritas:
http://nescritas.nletras.com/fpessoa/ricreis/archives/1005_04.html
Devem ter reparado, caros leitores, que durante estas semanas mostrámo-vos alguns poemas, tanto de Fernando Pessoa - Ortónimo, como do seu heterónimo Álvaro de Campos, poemas estes que nos chamaram mais a atenção devido ao seu conteúdo extremamente ambíguo, mas que constituem exemplos perfeitos das temáticas abordadas, tanto do Ortónimo como de Campos. Os poemas em questão são "Autopsicografia" e "Depus a Máscara". Contudo temo-nos esquecido de Alberto Caeiro e Ricardo Reis, dos quais ainda não publicámos nenhum poema... Até hoje! E como nenhum heterónimo é superior a outro na nossa opinião aqui fica um dos poemas que compoem "O guardador de Rebanhos", e que ilustra perfeitamente a forma de viver de Alberto Caeiro.
O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta ...
Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer cousa no sol de modo a ele ficar mais belo...
(Mesmo se nascessem flores novas no prado
E se o sol mudasse para mais belo,
Eu sentiria menos flores no prado
E achava mais feio o sol ...
Porque tudo é como é e assim é que é,
E eu aceito, e nem agradeço,
Para não parecer que penso nisso...)