Ah… o derradeiro Fado…
A doce brisa da existência inebria-me;
Suave frescura sob os meus pés;
Da alta erva verdejante;
A maior das sublimes viagens;
Que tudo leva…
Como se de o sopro de Neptuno se tratasse;
E a mim… No Estígio Rio.
Imutáveis passam os mares;
Perenes as grandes montanhas;
Inconscientes o destino rodeia;
Tágides e Hermes.
O caminho cerra-se;
E a mim… no Estígio Rio.
Este é o dia
Pelo qual eu sou
Por onde existo
Lentamente, Inexoravelmente,
O negro vácuo atrai;
E a mim… no Estígio Rio.
De que serve então,
Matéria, Fracasso Sucesso Amor
Nada sendo mais que
Luz no Presente
Trevas no Passado,
Nada no Futuro
E a mim… no Estígio Rio
À beira do rio eu escrevo,
Sabendo que é este o momento,
Que não se repete,
Viver pelas Horas, Minutos, Segundos,
É esta lei, por isso escrevo
Outono que não pára…
Inverno que não espera…
Por mim… no Estígio Rio.
H-Rally
É hoje chegada a vez de Ricardo Reis, o estóico-epicurista, e defensor do Carpe Diem.
É bem visível neste poema a clara aceitação do destino, a Morte, à qual ninguém pode escapar, aqui traduzida pela repetição do verso “E a mim… No Estígio Rio”. Para além disso, neste poema é, também, tratada de uma forma extensiva, a filosofia de vida de Ricardo Reis, a importância do momento presente, descurando quer passado quer futuro. “É a Hora…” Deve viver-se o momento presente não esquecendo que “O Fado a todos nós chama”.
Esperamos que este poema corresponda às expectativas dos nossos visitantes, e que se assemelhe àqueles escritos pelo discípulo fatalista do “Mestre”.
Estrelas do meu ser neste corpo nublado. Anseio por te ver, noite de céu pintado. Sou um todo que sou eu, Estrangeiro é o que sou. Nada sou que seja meu, eterna alma que mudou. Estranho o coração, que meu não pode ser. Evita a emoção, com medo de sofrer. Vive com uma tal calma, Sem alegria ou tristeza. Somente tem na sua alma, o Fado como certeza. Contempla, o meu olhar, a sua imensa beleza. Desfruta sem pensar, da simples natureza. |
Ama as aves a cantar doce e melodicamente, e o cabelo a ondular ao som duma brisa quente. Ferve-me na razão, um tédio de viver. Nada almeja senão, pelo ópio esquecer. Invade-me o pensamento, uma estranha morbidez. O futuro é sentimento e a máquina viuvez. O que serei eu então, numa noite iluminada? Que estrelas brilharão, nesta alma sempre alterada? H-Rally |
Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas. Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas. (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.) |
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